Eu especulo, tu especulas, eles pagam


Publicado em: O Gaiense, 6 de Março de 2010

No dia em que sai para as bancas esta edição de “O Gaiense”, poderá ter-se realizado um importante referendo na Islândia sobre o plano de indemnização dos investidores do falido banco Icesave. E dizemos “poderá” porque, atendendo a que as sondagens publicadas até meio da semana apontavam para uma esmagadora rejeição do plano, vários círculos políticos e financeiros tentam até à última hora inventar uma maneira de cancelar o referendo.

O Icesave era um banco privado que operava apenas na internet, oferecendo aos investidores internacionais uma tentadora remuneração muito acima do que era normal no sector. O Icesave tinha mesmo recebido o prémio Best Online Savings Account 2007 da revista What Investment. Muitos clientes ingleses e holandeses não resistiram à tentação e optaram por entregar avultados fundos à gestão especulativa do Icesave. E não só clientes particulares. Mais de uma centena de autoridades locais inglesas investiram receitas dos seus impostos e parte das transferências do governo central, mesmo quando já havia sinais evidentes de que o banco estaria a ser afectado pela crise financeira global. Com a bancarrota que decorreu desta crise perderam tudo, mas exigiram ser indemnizados.

Para evitar problemas internos em ano de eleições difíceis, os governos do Reino Unido e dos Países Baixos resolveram indemnizar eles próprios os investidores defraudados e agora reclamam da Islândia o pagamento.

Um plano de pagamento foi aprovado pelo parlamento da Islândia em Agosto, mas os dois governos exigiram mais. Em Dezembro, os deputados aprovaram uma nova lei. O montante a pagar corresponde a cerca de 12 000 euros por habitante e a 40% do PIB do país. Muitos consideraram este valor não suportável pela frágil economia islandesa, manifestando-se pouco dispostos a pagar pelos prejuízos que bancos privados provocaram a clientes pouco cautelosos, atraídos pela vertigem da especulação. Uma petição para que o presidente exercesse o seu veto foi assinada por 23% dos islandeses.

O Presidente da República não promulgou e decidiu submeter a decisão parlamentar a referendo popular no dia 6 de Março. Quando for conhecido o resultado, valerá a pena voltar ao assunto.

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