Diz-se que a UE exigia o PEC4. É verdade. Mas subjacente a esta referência passa uma ideia da UE como entidade que paira num nível de existência acima da política, acima da disputa que se trava cá por baixo, na vida concreta dos países. As imposições da UE são, então, apresentadas como inevitáveis e indiscutíveis. Este é um engano fatal. Porque as medidas da UE face à crise são opções definidas pelos políticos que constituem o Conselho e o Parlamento Europeu, que ocupam os seus cargos em resultado de eleições onde se confrontaram vários projectos alternativos. Ganhou um deles, é certo. Agora tentam impor a todos esse modelo de austeridade.
Isto até poderia ser considerado normal, no contexto da luta política. O que não é normal, e não é honesto intelectualmente, é apresentar essa opção política como se fosse uma inevitabilidade que decorre, sem alternativa, das condicionantes económicas. Não é. A política da UE é uma política de direita apenas porque a direita ganhou eleições. As opções da UE vão ser completamente alteradas quando os eleitores dos vários países europeus começarem a mudar o sentido dos seus votos. Esta é a regra da democracia. Apresentar meras escolhas políticas como opções inevitáveis é a negação da utilidade e da liberdade do voto popular, um péssimo serviço prestado ao combate à abstenção, uma negação da própria essência da democracia.