Que Europa queria este PEC?


Publicado em: O Gaiense, 26 de Março de 2011

Diz-se que a UE exigia o PEC4. É verdade. Mas subjacente a esta referência passa uma ideia da UE como entidade que paira num nível de existência acima da política, acima da disputa que se trava cá por baixo, na vida concreta dos países. As imposições da UE são, então, apresentadas como inevitáveis e indiscutíveis. Este é um engano fatal. Porque as medidas da UE face à crise são opções definidas pelos políticos que constituem o Conselho e o Parlamento Europeu, que ocupam os seus cargos em resultado de eleições onde se confrontaram vários projectos alternativos. Ganhou um deles, é certo. Agora tentam impor a todos esse modelo de austeridade.

Isto até poderia ser considerado normal, no contexto da luta política. O que não é normal, e não é honesto intelectualmente, é apresentar essa opção política como se fosse uma inevitabilidade que decorre, sem alternativa, das condicionantes económicas. Não é. A política da UE é uma política de direita apenas porque a direita ganhou eleições. As opções da UE vão ser completamente alteradas quando os eleitores dos vários países europeus começarem a mudar o sentido dos seus votos. Esta é a regra da democracia. Apresentar meras escolhas políticas como opções inevitáveis é a negação da utilidade e da liberdade do voto popular, um péssimo serviço prestado ao combate à abstenção, uma negação da própria essência da democracia.

O Conselho Europeu do lado de fora





A luta é alegria.


Corrupção parlamentar europeia na sua forma mais pura

Este é um dos três eurodeputados que os jornalistas do Sunday Times aliciaram para fazer emendas legislativas pagas por lóbis.

Pode ver-se aqui: O filme do negócio com as conversas do deputado aceitando encomendas e explicando como actuava.

Quem é o senhor em causa?

Ernst STRASSER
Grupo do Partido Popular Europeu (Democratas-Cristãos)















Curriculum vitae


Doutoramento em Direito na Universidade de Salzburg (1981). Dirigente da planificação estratégica, empresa Umdasch, Amstetten (1990). Sócio administrador, cce-consulting (desde 2005).

Responsável da direcção estadual do Volkspartei na Baixa Áustria (1992-1998).

Membro do conselho municipal de Grieskirchen (1983-1985). Deputado ao Parlamento Estadual da Baixa Áustria (1993-2000); administrador do "Landtagsklub" do Volkspartei da Baixa Áustria (1998-2000).

Ministro federal dos Assuntos Internos da República da Áustria (2000-2004).

Presidente da obra caritativa "Österreichisches Hilfswerk" (desde 1998). Presidente da Associação de Amizade Áustria-Rússia (desde 2003).

Grã-cruz da ordem jordana Al Kawkab Al Urduni. Grã-cruz da ordem papal de São Gregório Magno. Grã-cruz da ordem do Congresso da República da Colômbia. Grande Insígnia de Ouro da Banda de Mérito da República da Áustria.

Sócrates há muitos. Escolhe o teu.








"Golfistas à rasca" já escolheram.

A opção nuclear pode explodir



Publicado em: O Gaiense, 19 de Março de 2011

No próximo dia 26 de Março faz 40 anos que entrou em funcionamento o primeiro reactor da central de Fukushima. A empresa TEPCO, proprietária da central, queixa-se que “a concorrência entre fornecedores de energia se intensificou desde a liberalização do mercado de electricidade” no Japão, aumentando as dificuldades que já tinham tido quando foram colocados fora de serviço todos os reactores da sua central de Kashiwazaki-Kariwa, na sequência do tremor de terra de 2007.

O terramoto e o tsunami são catástrofes naturais. Mas o desastre nuclear que daí resultou é uma catástrofe política, que resulta da opção por uma indústria de produção de energia cujos riscos todos sabem que ninguém sabe como controlar verdadeiramente.

Os lóbis nucleares europeus agitam-se. A opinião pública que, em muitos países, tinha sido conquistada ou, pelo menos, neutralizada face à opção nuclear, começa a duvidar das garantias de segurança que lhe tinham vendido as campanhas políticas da indústria nuclear. Com Chernobyl, os europeus assustaram-se, mas foi-lhes explicado que o nível de exigência técnica da ex-URSS deixava muito a desejar. Agora que o acidente ocorre num país tecnologicamente tão ou mais avançado do que a Europa, num país que definiu na sua “Nova Estratégia de Crescimento” o objectivo de exercer uma liderança internacional nesta matéria, os argumentos começam a faltar.

Männer des Kampfes


Publicado em: O Gaiense, 12 de Março de 2011

Agora que os nossos Homens vão levar a Luta até Düsseldorf, convém desenvolver as versões linguísticas adequadas: Dona Merkel, depois de Sócrates, aqui vão os Männer des Kampfes e a música agora é outra.

Parece-me importante, no contexto da actual crise, que todos os homens e mulheres da luta tenham esta ambição e visão alargada, uma verdadeira eurovisão, porque, se a crise tem uma clara dimensão europeia, a luta também tem de ganhar essa escala para ser verdadeiramente eficaz.

Os Homens da Luta, agora os Männer des Kampfes, levam ao coração da Europa a iconografia de 74. Fazem bem. Quem viveu a Revolução de Abril sabe que aquele foi um dos raros momentos da nossa história recente em que toda a Europa teve os olhos postos em Portugal por boas razões. Em que a comunicação social europeia (e mundial) publicava longas reportagens e análises sobre o nosso país, em que milhares de estudiosos, de curiosos e de activistas se deslocavam a Portugal para tentarem perceber o que por cá se fazia, ou apenas para respirarem um pouco do ar fresco que há tanto tempo lhes faltava nos seus países. Um ar fresco que começa a sentir-se nesta Primavera de 2011, uma nova e refrescante brisa que está a tornar mais respirável o ar pútrido da política nacional.

http://eurovision.ndr.de/teilnehmer/homensdaluta107.html

Um convite para hoje


Publicado em: O Gaiense, 5 de Março de 2011

Neste sábado, 5 de Março, o Porto será palco de uma reunião europeia com uma agenda diferente do habitual: um grupo de especialistas em assuntos europeus discutirá, durante toda a tarde, com activistas sociais, políticos e sindicais vindos dos quatro cantos da União, a forma de concretizar uma “Iniciativa de Cidadania” (IC).
A IC é uma novidade institucional prevista no Tratado de Lisboa, pela qual um milhão de cidadãos da UE pode solicitar à Comissão Europeia que apresente uma determinada proposta legislativa. Trata-se de um novo instrumento político, que está ainda a ser regulamentado, prevendo-se que entre em vigor até ao início de 2012.
Os organizadores da reunião convidam todos os interessados para virem conhecer e debater esta proposta, que se faz num registo de uma Europa mais social. O encontro com o público está marcado para as 19h, naquele que é talvez o mais europeu dos edifícios da cidade do Porto: a Casa da Música.

A resposta à actual crise exige mais e melhores soluções europeias e necessita de mais e melhor participação cidadã. O debate político em Portugal tem sofrido de um défice de perspectiva europeia e de um défice de participação cidadã, mas há sinais animadores de que algo está a mudar em ambos os aspectos. Esta reunião é disso um sinal.


As nossas armas de Khadafi




Publicado em: O Gaiense, 26 de Fevereiro de 2011

A repressão dos manifestantes líbios - de que porventura vimos ainda apenas uma amostra -, apesar de justamente condenada pela UE, está a ser feita, em grande parte, com armas vendidas pelas empresas e Estados da UE. O bloqueio das redes de telemóveis e Internet está a dificultar o resgate dos cidadãos europeus, mas está a ser feito com equipamentos vendidos para esse efeito por empresas da UE, sob autorização dos seus Estados.

No Jornal Oficial da União Europeia (C9, 13-01-2011) acaba de ser publicado o Relatório Anual sobre as exportações de tecnologia e equipamento militares. Vários países da UE, Portugal incluído, autorizaram a exportação de centenas de milhões de euros de equipamentos militares para a Líbia e para os outros regimes da região em conflito com os seus povos.

Dir-me-ão que as exportações são importantes para a recuperação económica. Certamente que sim, mas a estratégia não pode ser a de vender seja o que for, seja a quem for. Em qualquer ramo de actividade, aumenta-se o volume de negócios incentivando a procura; o problema é que, no caso da indústria de armamento, um marketing competente é aquele que incentiva as guerras e o reforço dos arsenais militares e uma política de paz é vista como um sério risco para o negócio, a evitar a todo o custo.