Está votado que não se pode votar




Publicado em: O Gaiense, 14 de Abril de 2012

Este Tratado orçamental, “um condensado de tudo o que está errado na actual política europeia” (como o classificou Pacheco Pereira), é um triste episódio da história da UE. E a sua ratificação é um dos momentos mais lamentáveis e democraticamente degradantes da história da Assembleia da República.

Custa ver o nosso Parlamento votar a sua própria secundarização nas decisões orçamentais que são da sua competência, substituindo a opção democrática que em cada ano responde às condições concretas do país por uma draconiana regra automática, cega à variação do contexto e das eventuais necessidades dos portugueses e da economia.

Será que os actuais deputados temem que os que forem eleitos a seguir possam ter opinião diferente da sua em matéria orçamental? Ou não confiam que os seus sucessores possuam aquela clarividência rara que só a eles iluminou? Estranha falta de confiança de uma imensa maioria que sempre dominou a Assembleia da República... E se os próximos eleitos do povo vierem a ter uma opinião diferente, que direito têm os deputados de hoje de perpetuar numa blindagem legal as suas actuais opiniões orçamentais, impedindo os seus sucessores de decidir tão livremente como eles próprios puderam fazer?

Esta é uma velha questão da teoria política: será democrático votar que não se pode mais votar?

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