Lideranças paritárias




Publicado em: O Gaiense, 25 de Agosto de 2012

A proposta de um modelo de liderança paritária do Bloco tem gerado acesa discussão, sobretudo por ser inédita no mundo partidário português. Essa solução existe noutros partidos europeus, como tem sido referido, e o grupo parlamentar dos Verdes / Aliança Livre Europeia há muito a adoptou. É em todos os casos uma liderança paritária, porque a hipótese bicéfala com dois homens ou duas mulheres nunca esteve em cima da mesa.

Mas no atual debate não tem sido referida a experiência europeia do Bloco nesta matéria. O partido da Esquerda Europeia, fundado em 1999, a que o Bloco pertence, tem estrutura rigorosamente paritária: a Comissão Executiva tem número igual de homens e mulheres e, no Congresso, cada partido membro tem direito a 12 delegados, 6 de cada género; se um partido se fizer representar por 4 de um género e 8 de outro, só 4 de cada género terão direito de voto, para garantir votações em absoluta paridade. Nada disto se passa em Portugal, nem está proposto que se passe no Bloco, mas é a realidade partidária que os bloquistas já vivem a nível europeu.

Esta paridade tem apenas uma exceção: a presidência do partido, que é exercida por uma pessoa e os três eleitos até hoje foram homens. Não tem sido dito que, há dois anos, no 3º Congresso da Esquerda Europeia, o Bloco avançou com a proposta de uma presidência paritária. Gerou polémica, houve gente a apoiar, sobretudo dos partidos que têm eles próprios esse modelo, mas não houve condições para vencer. Voltou a eleger-se um presidente. Mas, nos 4 vice-presidentes há paridade. Isto é, a paridade já subiu até ao nível da vice-presidência.

O mesmo acontece nos diferentes sectores da nossa sociedade: os ancestrais preconceitos patriarcais estão a ser lentamente vencidos com uma exceção: os lugares de topo. Nesse último reduto, seja nas universidades, na banca ou nas empresas, no sindicalismo ou na política, por todo o lado, o sistema patriarcal resiste vitorioso. O passo decisivo da conquista da igualdade no topo será muito difícil e precisará de medidas de exceção. Só depois, quando formos todos naturalmente iguais, estas quotas de género se tornarão obsoletas e cairão por si.

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