O estado da União




Publicado em: O Gaiense, 15 de Agosto de 2012

Esta semana, no Parlamento Europeu, Durão Barroso fez um longo e inflamado discurso sobre o estado da União em que constatou a situação difícil que vive a Europa, onde “o sentimento de justeza e equidade entre Estados-Membros está a desgastar-se”, tornando os cidadãos frustrados e ansiosos. Considerando que enfrentamos uma verdadeira emergência social, com o aumento da pobreza e do desemprego em massa, afirmou que a desigualdade não é sustentável e que um eficaz sistema de protecção social não é um obstáculo à prosperidade.

Curiosas constatações, que não conseguimos vislumbrar nos programas da troika. No entanto, um dos três senhores que vem a Portugal impor receitas drásticas para o desemprego e a proteção social é funcionário da Comissão, actuando às ordens de Barroso. Por vezes esquecemos que a troika CE-BCE-FMI tem rosto, aliás tem três rostos, que não são aqueles semblantes carregados dos mudos funcionários de quinta linha que vemos na televisão, mas sim Durão Barroso, Mario Draghi e Christine Lagarde, três políticos de direita que sorriem para a fotografia e fazem belos discursos, enquanto impõem as mais violentas medidas.

A troika tem rosto, aliás tem três rostos

A solução política que Barroso preconizou para a UE poder enfrentar a grave situação que descreveu é “um quadro mais forte e mais vinculativo para a prática decisória nacional no âmbito das políticas económicas fundamentais”, a fim de colocar estas políticas fora do alcance de qualquer surpresa desagradável que o exercício da democracia (“a prática decisória nacional”) possa trazer. Eles sabem que a crescente reação das vítimas destes planos de extorsão (“as políticas económicas fundamentais”) pode, a qualquer momento, passar da fase do simples protesto à rejeição total e escolha de novos caminhos. Limitar a democracia seria o seu seguro de vida.

Sem comentários: