Hugo Chávez e o paradoxo da política europeia





Publicado em: O Gaiense, 8 de Março de 2013

Morreu um dos mais carismáticos líderes latino-americanos desde Simon Bolívar. Muitos políticos e militares da região começam por se expressar através de um natural sentimento de amor à pátria. Mas, com a histórica e violenta interferência dos EUA na América Latina e Caraíbas (no seu quintal, como consideram), o sentimento nacionalista transforma-se em anti-imperialista e, por essa via, vai assumindo um carácter anticapitalista, já que o império se arroga em bastião de defesa deste sistema. Esta evolução é acentuada por outros dois factores: as desigualdades sociais mais gritantes do globo, com milhões na miséria absoluta, convivendo com fortunas colossais das oligarquias que funcionam como pivôs das multinacionais que exploram os recursos da região; e de uma direita política e mediática ao serviço desta classe, tão agressiva e radical que faz com que a direita mais radical da Europa pareça um grupo de meninos de coro.

Chávez escolheu o seu lado e levou-o às últimas consequências. As suas políticas sociais transferiram para os mais pobres o equivalente a centenas de milhares de milhões de euros, milhões saíram da pobreza e do analfabetismo e passaram a ter direito a cuidados de saúde. Esta rápida evolução social foi medida e confirmada por todos os institutos de análise mundial.

Isto fez-se à custa dos anteriores beneficiários dos rendimentos do petróleo: as multinacionais europeias e americanas e os mercados financeiros, cujos acionistas sem rosto nunca lhe perdoaram ter desviado para os pobres os seus dividendos milionários.

Trabalhando a favor da grande maioria, nada mais natural que Chávez tenha vencido todas as eleições a que concorreu. Não há aqui nenhum paradoxo. Paradoxo existe é na Europa, onde as eleições têm sido sistematicamente ganhas por políticos que empobrecem as suas populações para satisfazer as exigências e os interesses dos mercados financeiros internacionais. Pode ser que o vento do Atlântico nos traga um pouco da inspiração e da coragem do homem que morreu e da sua revolução que continua viva.

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