Previsões para 2021

 


Previsões para 2021

Eis-nos chegados àqueles dias em que nos são apresentadas as previsões para o novo ano que começa. É um momento empolgante, em que pessoas dotadas de poderes sobrenaturais nos revelam algo do que conseguem ver do nosso futuro e que não está acessível aos comuns e ignorantes mortais que somos quase todos. Porque não percebemos nada da grande ciência da astrologia e dos signos, podemos ter GPS no carro mas não temos um bom mapa astral, não sabemos, por exemplo, que Júpiter e Saturno formarão tensão em Úrano em Touro, o que pode propiciar inovações criativas e mesmo bons negócios on-lineEntão não é tão bom saber que, em 2021, vamos conseguir libertar-nos definitivamente da conjunção de Saturno e Plutão que nos obrigou em 2020 a mudarmos os nossos hábitos e valores, mas que agora os astros permitem que comecemos uma metamorfose interior e que vejamos o mundo e a vida de uma outra forma?

 

Analfabetos da numerologia (matemáticos incluídos), ignoramos que tudo no Universo é feito de energia, até mesmo os números, cada número possuindo uma vibração energética específica, pela qual podemos conhecer melhor aqueles que nos rodeiam e assim tirar o melhor partido de cada situação.

 

Pobres de espírito que não sabemos que os 22 arcanos maiores do Tarot escondem os mais profundos segredos da natureza humana, as respostas a todas as questões da Humanidade.

 

Somos uns verdadeiros primatas, cujas mãos só servem para agarrar, acariciar, escrever, pintar ou tocar um instrumento, sem sequer suspeitarmos que a palma da nossa mão nos revela, através da quiromancia, uma ampla perspectiva do que o futuro nos reserva, se vamos ser felizes no amor, quantos filhos vamos ter, se podemos ter uma mudança drástica na nossa vida profissional ou um problema mais sério de saúde.

 

É claro que da saúde também se pode tratar com uma boa consulta de Reiki, que permite a qualquer pessoa sentir-se imediatamente melhor, mais leve, liberta dos problemas de saúde, ou sentindo pelo menos um alívio dos sintomas. 

 

Para os mais materialistas, incrédulos do espírito, inclinados para coisas mais sólidas, há sempre o recurso aos cristais, verdadeiras pedras de toque cuja vibração energética ajuda a alinhar a vida com a abundância e a prosperidade, para que haja sempre um fluxo crescente de dinheiro na nossa vida. Dinheiro e não só, que há também cristais para melhorar a saúde, para desenvolver a vida amorosa ou para melhorar a vida profissional.

 

Para os mais espiritualistas e amantes da simplicidade, nada como um bom Pensamento Positivo, do tipo de que para sermos capazes de concretizar os nossos objectivos basta que verdadeiramente acreditemos em nós próprios, cheios de mindfullness e de força de vontade.

 

Mas mesmo aqueles a quem a lufa-lufa do dia-a-dia não deixa tempo nem paciência para todas estas artes divinatórias um bocado complexas, mesmo esses não devem desanimar, porque há sempre o recurso à prática mais simples da Cafeomancia, acessível em casa ou numa esplanada por cerca de um euro, pela qual se pode fazer a leitura e interpretação das borras de café que ficam na chávena, mostrando todos os desígnios que o futuro nos reserva. Depois de beber o café, segura-se a chávena pela asa, roda-se três vezes no sentido dos ponteiros do relógio e observam-se os desenhos que se formaram. Aí estará estampado, preto no branco, o que 2021 reserva a cada um.

 

É claro que, como explicam os especialistas, para que uma boa vidência, mediunidade, oráculo ou ritual funcione, temos de confiar no seu poder, estarmos dispostos a aceitar a ajuda do Universo, não a bloqueando devido ao medo ou a uma descrença. Quanto maior for a fé e a crença que se puser naquilo que se faz, maior é o seu poder e eficácia. Combinado, claro, com o cartão bancário que deve estar à mão para tornar a coisa mais rápida e simples.

 

Ouçamos, pois, o que nos irão dizer agora sobre 2021. Sem pensar muito no que os mesmos nos disseram, há precisamente um ano, sobre o que ia ser o maravilhoso ano de 2020. 

 

E que falem à vontade porque, felizmente, os polígrafos e outros programas de verificação da verdade do que é dito em público não têm perdido muito tempo com este sector de actividade, talvez por acharem que não tem dignidade para ser escrutinado, talvez por o acharem inofensivo, talvez para não estragar um negócio tão popular e rentável, até mesmo para as televisões e para alguma imprensa tida como mais respeitável e mais dada ao fact-checking.

 

 

 

Há algum problema com isto?

 

Aparentemente, não há um grande problema com esta venda de banha da cobra que, apesar de ser uma actividade largamente espalhada na nossa sociedade, parece relativamente inócua, para além dos directamente lesados, claro.

 

Mas, tratando-se de uma óbvia burla, não deveria ser proibido andar a burlar incautos? 

Em princípio, este crime já está previsto na lei, mas a decisão de proibir este tipo de burla teria imensas dificuldades e poderia mesmo ser uma emenda pior do que o soneto, atirando esta actividade para um mundo subterrâneo ou clandestino, eventualmente para a dark web, tornando-a mais opaca e logo mais difícil de controlar e combater. 

 

A proibição seria uma medida totalmente errada - pouco liberal, alguns dirão -, embora se pudesse perceber a tentação num ano em que se comemoram os dois séculos da Revolução Liberal, pioneira em medidas radicais contra as mais destacadas formas organizadas de poder através das crenças. 

 

Não, o fim do negócio e a libertação das vítimas destas operações de magia tem de seguir outro caminho. O caminho da escola, da instrução, do pensamento, da cultura, da lógica, da exigência de rigor intelectual. Este tipo de crendices não pode ser abolido, tem de extinguir-se por falta de clientes.

 

Lembram-se do florescente comércio de relíquias da terra santa, tão magistralmente glosado por Eça de Queiroz e que era um problema real na sua época? Pois bem, hoje não temos notícia de que o comércio continue. Não é que dos bosques de Jerusalém não se pudessem retirar mais umas toneladas de fragmentos verdadeiros da cruz que Cristo carregou para o Calvário; deixou foi de haver compradores para eles.

 

E é precisamente porque este tem de ser o caminho, que o facto de televisões, revistas e jornais considerados sérios e credíveis continuarem a dar guarida a este tipo de actividade de bruxaria se revela particularmente nocivo. Porque funciona como caução, como atestado de respeitabilidade, como apoio implícito à consideração de que se trata de assuntos dignos de consideração pelos leitores e espectadores. É um bom serviço comercial prestado aos traficantes, mas um mau serviço prestado ao necessário amadurecimento intelectual do povo português. 

 

Mais grave ainda se torna essa relaxada posição dos media responsáveis, neste momento em que a nossa sociedade sofre uma inundação de maliciosas notícias falsas (fake news) através de redes sociais mais ou menos incontroláveis, falsidades contra as quais a única protecção verdadeiramente eficaz será o juízo crítico do próprio leitor.

 

Analisem-se essas notícias falsas e compreender-se-á que são, na generalidade, muito mais lógicas e plausíveis do que tudo o que se promete conseguir com as técnicas de vidência e previsão referidas no início deste texto. É mais fácil acreditar no absurdo de que as torres de telecomunicações espalham corona vírus nas ondas dos telemóveis 5G do que no ainda mais absurdo facto de o nosso futuro estar descrito antecipadamente nas cartas de qualquer maga, nas borras da chávena de café ou em qualquer conjugação de corpos celestes. 

 

Para um povo habituado desde sempre a engolir o poder mágico de signos, búzios e quejandos, as fake news mais absurdas serão apenas a piece of cake. Esse é o problema.





Manuel António Pina e a publicidade da Apple

Como já referi noutros posts deste blog que levam a etiqueta "Manuel António Pina", tentarei publicar aqui alguns textos publicitários que o poeta fez quando trabalhávamos juntos nesta actividade. 

Aqui fica mais um, este de uma campanha da Apple (que fizemos também com uma pintura do José de Guimarães) em que o Pina, no seu estilo genial e inconfundível, se afasta completamente da tradicional secura tecnológica da publicidade de informática que se fazia em Portugal, nomeadamente da que a Apple fazia antes de trabalhar connosco.




 

[ Elementos retirados de um velho fotolito K (preto) de uma peça em CMYK (quadricromia) ]



Sobre a origem e os termos da colaboração do Pina na publicidade, pode encontrar uma explicação no programa da RTP "NADA SERÁ COMO DANTE", disponível em RTP Play - Nada Será Como Dante - Episódio n.º14 - temporada 1 (https://www.rtp.pt/programa/tv/p37701/e14).

Sobre a nossa relação pessoal com os Mac e o que a Apple significava em Portugal e noutros países há 30 anos, muito haveria a dizer, mas não cabe neste post. Pode ver o tom e o ambiente da disputa da Apple com o estabelecido e dominante mundo dos PC na série de vídeos "- Hello, I'm a Mac. - And I'm a PC." em https://www.youtube.com/watch?v=0eEG5LVXdKo

Uma outra razão por que no Norte não temos respeito pela TAP






Para além de todos os bons argumentos que têm sido apresentados por autarcas, outros políticos e agentes económicos contra os planos da TAP que desprezam a região Norte do país, gostaria de lembrar um outro factor que gerou enorme descontentamento e levou muita gente que eu conheço, dolorosamente, a deixar de encarar a TAP como algo de nosso, uma companhia à qual deveríamos dar a nossa preferência patriótica na compra de voos, em detrimento de outras companhias aéreas.
Houve uma altura em que apenas a TAP (promeiro sozinha, depois em code-share com a Brussels Airlines) tinha voos directos de ligação entre o Porto e a capital da União - Bruxelas.
Eram voos largamente utilizados todas as semanas por deputados europeus, funcionários da UE, pessoas ligadas à enorme rede de instituições cuja actividade está centrada em Bruxelas. Pessoas de todo o Norte do país e muitas também da Galiza.
Abusando desse exclusivo, sem concorrência, a TAP começou a aumentar escandalosamente os preços das viagens. O voo Porto-Bruxelas ficou muito mais caro do que o voo Lisboa-Bruxelas (apesar de a distância ser menor) e muito mais caro do que os voos da TAP para outros destinos europeus bem mais longínquos e com aeroportos cujas taxas não eram inferiores.
Actuou na lógica de mercado, é certo, aproveitou a falta de concorrência, ganhou tudo o que pôde à custa dos passageiros desta região. Mas, com essa atitude, alienou qualquer afectividade natural pela companhia, que de nossa só tinha o nome. E, na escolha de voos para outros destinos (eram passageiros frequentes, que viajavam muito e para muitos destinos), deixámos de dar preferência à TAP sempre que havia uma boa alternativa, coisa que talvez não tivéssemos feito se a TAP nos respeitasse e a sentissemos como nossa.
Há a acrescentar que a TAP nessa altura era 100% pública. Mas a sua gestão já tinha todos os vícios de uma gestão privada, nenhuma perspectiva verdadeiramente nacional, nenhum respeito pelo país. Como hoje. É tudo isso que urge mudar.

26 de Abril de 1974


26 de Abril
a madrugada que os/as jornalistas esperavam, 
a edição inicial inteira e limpa da censura, 
em que os jornais emergiram da noite e do silêncio 
e livres publicaram a substância do tempo.

Capa dos três jornais diários do Porto de 26 de Abril de 1974




 Notem esta caixa na capa d' "O Comércio do Porto", em que se informa que a Assembleia Nacional (fascista), verificada a falta de quorum, marca nova sessão para o dia 27. 
Os fachos demoraram muito a perceber o que era a Revolução dos cravos. 
Alguns ainda hoje não perceberam bem...


CDS - O original e as cópias


No rescaldo do congresso do CDS  e dos debates sobre a sua identidade, sem qualquer comentário ou juízo de valor, deixo-vos a capa e alguns extractos do documento fundador com que o partido se apresentou à sociedade.
Para melhor se poder comparar o original com as cópias das cópias das cópias das cópias...


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