Colóquio – A Resistência Estudantil à Ditadura (no ISCTE)
Resposta a um pedido (e a Feira do Livro)
Como alguns amigos já terão reparado, tenho andado em campanha. Já fiz oito intervenções públicas partilhando ideias e reflexões sobre a política e as autarquias.
Tendo-me sido pedido que publicasse essas notas, ocupei abusivamente mais de 60 páginas deste livro com isso. Espero que sejam úteis para os leitores e aguardo as vossas críticas demolidoras, para ver se aprendo alguma coisa, que bem estou a precisar.
O livro está disponível na Feira do Livro do Porto, no stand 95 da livraria Traga Mundos. Ou pode ser pedido à editora em: furarocerco@gmail.com.
Revolução (em louvor do Otelo)
Revolução
Quando éramos novos, muito novos, discutíamos imenso sobre como derrubar o regime fascista.
Nós, que éramos defensores da independência nacional e não esquecíamos como em 1640 nos tínhamos livrado dos Filipes, nós que éramos herdeiros dos primeiros defensores da necessidade de uma Constituição e abominávamos o absolutismo, não esquecíamos a revolução liberal de 1820, nós que éramos anti-monárquicos e defendíamos que a chefia do Estado teria de resultar de uma eleição popular e nunca ser transmitida hereditariamente dentro da mesma família, não esquecíamos a revolução republicana de 1910, nós que ansiávamos pela liberdade e pela democracia, já tínhamos concluído que, para nos livrarmos do fascismo, tínhamos de fazer uma revolução. E tínhamos, nos nossos intermináveis e entusiasmados debates, concluído que essa revolução teria de ser uma revolução armada ou não teríamos hipótese nenhuma. Só havia um pequeno problema: éramos poucos e não tínhamos armas.
Estávamos nós nestas angustiantes constatações quando uns tipos, bastante mais práticos do que nós e bastante mais organizados do que nós e que, por acaso, até tinham armas, deitaram mãos à obra e fizeram-na. A nossa sonhada revolução, que foi afinal a revolução deles, que foi a revolução de todo o povo.
Talvez eles nunca tivessem lido aquela pequena frase que um jovem de 27 anos, que vivia em Bruxelas, tinha anotado num caderno de apontamentos, há mais de um século: “Os filósofos têm apenas interpretado o mundo de maneiras diferentes; a questão, porém, é transformá-lo.”
Podem não ter lido, mas perceberam bem o sentido da coisa.
Ontem, como hoje, a questão é transformá-lo.
Obrigado pela demonstração de que é possível. Não esqueceremos.
Não te esqueceremos, Otelo.
Em Abril, cartazes mil [16]
Chegados ao dia 25, e com este cartaz dos 30 anos, encerramos a pequena série de cartazes das comemorações do 25 de Abril no Porto que vimos aqui publicando diariamente há duas semanas. Digamos que o dia 25 nos liberta dessa obrigação.
Todos estes cartazes estão num arquivo (a que chamámos “Estante distante”, a sua estante distante) que está a tratar de organizar a disponibilização online, aberta a todos os públicos, destes e de muitos outros materiais, com uma informação mais completa do que no blog ou no facebook: créditos fotográficos e de design gráfico, dimensões, materiais associados, como postais, autocolantes, etc.
Porque vários destes cartazes (se não a sua totalidade) não estariam ainda disponíveis na internet, como estão os cartazes nacionais da Associação 25 de Abril, os leitores mais novos ou os que vivem longe do Porto provavelmente nunca os teriam visto, pelo que esperamos que tenha sido com agrado que os viram pela primeira vez, ou que os reviram com alguma saudade e agora a eles podem voltar quando quiserem.
A preservação da memória e a sua partilha livre também é uma conquista de Abril.
Em Abril, cartazes mil [15]
Continuando a publicação de uma série de cartazes das comemorações do 25 de Abril no Porto, apresentamos neste post o cartaz das comemorações populares de 1997.
Em Abril, cartazes mil [14]
No 25º aniversario da Revolução, até a STCP - Sociedade de Transportes Colectivos do Porto - publicou o seu cartaz comemorativo, dando os "parabéns" à liberdade.
Em Abril, cartazes mil [13]
Continuando a publicação de cartazes das comemorações do 25 de Abril no Porto, aqui está o cartaz das comemorações populares de 1986.
Em Abril, cartazes mil [12]
Continuando a publicação de cartazes das comemorações do 25 de Abril no Porto, aqui está o cartaz das comemorações populares de 1993.
Em Abril, cartazes mil [11]
Integrado na série de cartazes de comemorações do 25 de Abril no Porto que vimos publicando este mês, este é um cartaz do Sindicato dos Jornalistas promovendo uma exposição de fotografia integrada nas comemorações do 25º aniversário da Revolução.
Em Abril, cartazes mil [10]
Continuando a publicação de cartazes relativos às comemorações do 25 de Abril no Porto, aqui temos o cartaz das comemorações populares de 1995.
Em Abril, cartazes mil [9]
Em Abril, cartazes mil [8]
Na série de cartazes sobre as comemorações do 25 de Abril no Porto, damos hoje lugar à Câmara Municipal de Vila Nova de Gaia, que publicou este cartaz nas suas comemorações concelhias dos 25 anos da Revolução de Abril.
Em Abril, cartazes mil [7]
Continuando a série de publicações de cartazes das comemorações do 25 de Abril no Porto, temos neste post o cartaz de 2003 das Comemorações Populares.
Em Abril, cartazes mil [6]
Em Abril, cartazes mil [5]
Em Abril, cartazes mil [4]
Em continuação dos posts anteriores, em se comenta a publicação desta série de cartazes portuenses do 25 de Abril, aqui fica o cartaz de 1995, que é o cartaz que junta mais símbolos de organizações políticas de que tenho memória, sublinhando assim de forma visual a extensa e inclusiva colaboração das esquerdas políticas nestas iniciativas.
FÓRUM ABRIL 95 – "O Futuro da Nação"
Debate + Jantar + Espectáculo
Organizado por:
APRIL – Associação Política Regional e de Intervenção Local
Com a adesão de:
Associação 25 de Abril
ID – Intervenção Democrática
JS – Juventude Socialista
MDP – Movimento Democrático Português
OLHO VIVO – Associação Juvenil
PCP – Partido Comunista Português
PE – Plataforma de Esquerda
PS – Partido Socialista
PSR – Partido Socialista Revolucionário
PXXI – Política XXI
UDP – União Democrática Popular
UMAR – União de Mulheres Alternativa e Resposta
Em Abril, cartazes mil [3]
Em continuação dos posts anteriores, em se comenta a publicação desta série de cartazes portuenses do 25 de Abril, aqui fica o cartaz de 1994, relativo ao Fórum realizado nas Belas Artes, no vigésimo aniversário da Revolução.
FÓRUM ABRIL 94 – “Abril: os próximos 20 anos"
Organizado por:
APRIL – Associação Política Regional e de Intervenção Local
Com a adesão de:
Associação 25 de Abril
CDP – Comunistas pela Democracia e o Progresso
ID – Intervenção Democrática
MDP – Movimento Democrático Português
OLHO VIVO – Associação Juvenil
PCP – Partido Comunista Português
PE – Plataforma de Esquerda
PS – Partido Socialista
PSR – Partido Socialista Revolucionário
UDP – União Democrática Popular
UMAR – União de Mulheres Alternativa e Resposta
Em Abril, cartazes mil [2]
Em continuação do post anterior, onde se comenta a publicação desta série de cartazes portuenses do 25 de Abril, aqui fica o cartaz de 1992, relativo aos debates organizados no Rivoli.
Esta iniciativa teve como lema "Homenagem a Salgueiro Maia", que tinha morrido no dia 3 desse mesmo mês.
A RTP tem no seu arquivo uma reportagem do evento (https://arquivos.rtp.pt/conteudos/homenagem-a-salgueiro-maia-2/), embora tenha registado por engano, na legenda no seu site, que se passa em Lisboa.
DEBATES – “O 25 de Abril e o Portugal europeu” – Homenagem a Salgueiro Maia
Organizado por:
APRIL – Associação Política Regional e de Intervenção Local
Com o apoio de:
Associação 25 de Abril
C. M. Porto – Pelouro de Animação da Cidade
Rádio Nova
Com a adesão das organizações políticas:
ID – Intervenção Democrática
MDP/CDE – Movimento Democrático Português
PCP – Partido Comunista Português
PC(R) – Partido Comunista (Reconstruído)
PS – Partido Socialista
PSR – Partido Socialista Revolucionário
UDP – União Democrática Popular
Foram oradores nestas sessões:
Avelino Gonçalves
Alberto Martins
Carlos Marques
Francisco Assis
Francisco Louçã
Ilda Figueiredo
José Luís Nunes
José Tengarrinha
Luís Fazenda
Macedo Varela
Mário Tomé
Nuno Grande
Otelo Saraiva de Carvalho
Pezarat Correia
Raul Castro
(+ Raimundo Delgado e Rui Oliveira, que não estão mencionados no cartaz)
Moderação de:
Artur Costa
Monteiro Pinho
Silva Pinto
Em Abril, cartazes mil [1]
Durante alguns anos, a esquerda portuense - e concretamente a esquerda partidária - viveu momentos de grande colaboração em iniciativas comemorativas do 25 de Abril.
Para informação e memória, aqui se publicará este mês uma pequena série de cartazes (em arquivo) onde fica patente essa cooperação.
Tiveram um especial papel catalisador dessa unidade a A25A (que continua bem viva) e a APRIL (que infelizmente já cessou actividades), ao tratarem todas as formações da esquerda - as maiores como as mais pequenas - exactamente com o mesmo respeito, numa postura anti-sectária pouco comum nesta área política.
Este cartaz é de 1993, ano em que se realizou no Rivoli o FORUM - Dialogar sobre o desenvolvimento em democracia. Note-se a quantidade, qualidade e diversidade de oradores.
O Forum foi organizado por:
Associação 25 de Abril
APRIL – Associação Política Regional e de Intervenção Local
Com o apoio de:
C. M. Porto – Pelouros de Animação da Cidade e da Educação
Com a adesão das seguintes organizações políticas:
CDP – Comunistas pela Democracia e o Progresso
ID – Intervenção Democrática
MDM – Movimento Democrático de Mulheres
MDP – Movimento Democrático Português
PCP – Partido Comunista Português
PE – Plataforma de Esquerda
PS – Partido Socialista
PSR – Partido Socialista Revolucionário
UDP – União Democrática Popular
UMAR – União de Mulheres Alternativa e Resposta
Foram oradores nestas sessões:
Armando Sá
Augusto Santos Silva
Carlos Marques
Carlos Santos
Delgado da Fonseca
Francisco Avilez
Francisco Assis
Ilda Figueiredo
Jacinto Rodrigues
Jorge Lopes
Jorge Neves
José Cangueiro
José Luís Nunes
José M. Cabral Ferreira
Lusitano Correia
Manuel Fernandes de Sá
Manuela Tavares
Mário David Soares
Mário Barbosa
Mário Brochado Coelho
Mário Tomé
Nuno Grande
Paula Cristina
Paulo Pinho
Paulo de Sousa
Raul Brito
Raul Castro
Rui Oliveira
Rui Sá
Vicente Jorge Silva
E a participação artística de:
Lurdes Norberto
Banda Ekus
Fact-check ao próprio Polígrafo
Lamento que o Polígrafo, que tanto prezo pelo trabalho meritório que tem feito, não tenha passado neste simples fact-check, sobretudo porque a resposta, a correcção do seu erro, estava mesmo à frente do seu nariz, na própria fotografia com que o Polígrafo ilustrou o artigo.
Deixem-me dar-vos um exemplo futebolístico, muito simples, para ver se compreendem o tipo de erro que estão a cometer: se alguém dissesse "Pedro Proença assumiu a presidência do futebol português", que avaliação faria o Polígrafo?
Diria que não é verdade, diria talvez que não há presidência do futebol português, que ele é só presidente da Liga, o que é muito diferente; diria que, por exemplo, há também a Federação, que é presidida por Fernando Gomes, etc.
Para qualquer aficionado de futebol, a expressão "presidência do futebol português" soaria algo estranha, porque é um conceito vazio, não corresponde a nada que exista.
Mas, se houvesse um qualquer movimento dentro do futebol português para desvalorizar a Federação e para tentar que o poder no futebol fosse posto nas mãos da Liga, então este simples erro, essa mera falta de rigor, podia assumir conotações mais preocupantes.
O mesmo se passa com a "presidência da União Europeia", que também não existe, como sublinho mais detalhadamente aqui, onde mostro não só que é um facto que não existe (prefira os factos), mas que este erro pode ter outras implicações mais negativas, o que, estou certo, não será de forma alguma a intenção do Polígrafo.
31 de Janeiro - Um cartaz de Manuel António Pina, Germano Silva e João Botelho
Presidência portuguesa da União Europeia?
Nestes primeiros dias do ano de 2021, todos os meios de comunicação têm dado grande e justificado destaque à presidência portuguesa que agora começa.
Mas há um problema para o qual queria chamar a vossa atenção: os títulos de jornais e rodapés televisivos em que se refere a "Presidência portuguesa da União Europeia" são completamente desadequados e isso tem alguma gravidade que pode passar despercebida. Por duas razões.
A primeira e mais elementar é porque são falsos. Portugal não tem a Presidência da União Europeia porque isso não existe, a União Europeia pura e simplesmente não tem Presidência, nem Presidente. Portugal tem um Presidente, os Estados Unidos também, a União Europeia não tem. E isso não é um acaso nem um pormenor. Foi uma opção bastante ponderada, muito discutida e, penso eu, bastante sensata.
É claro que há muitas Presidências na UE já que as suas instituições são:
– o Parlamento Europeu
– o Conselho Europeu
– o Conselho
– a Comissão Europeia
– o Tribunal de Justiça da União Europeia
– o Banco Central Europeu
– o Tribunal de Contas.
O Parlamento Europeu, o Conselho e a Comissão são ainda assistidos por um Comité Económico e Social e por um Comité das Regiões, que exercem funções consultivas.
Ora, e falando só nas principais instituições políticas da UE, o Parlamento Europeu tem o seu Presidente (o italiano David-Maria Sassoli), o Conselho Europeu tem o seu Presidente (o belga Charles Michel), a Comissão Europeia tem a sua Presidente (a alemã Ursula von der Leyen) e só o Conselho (ou Conselho da UE ou Conselho de Ministros) tem uma Presidência rotativa e é essa que cabe agora a Portugal. Presidiremos a uma das sete (ou nove, com os comités consultivos) instituições da UE.
Mas, mesmo no estrito âmbito do Conselho da UE, quando se reúnem os Ministros dos Negócios Estrangeiros, este é presidido pelo Alto-Representante para os Negócios Estrangeiros e a Política de Segurança, que é também Vice-Presidente da Comissão Europeia (o espanhol Josep Borrell Fontelles). E a reunião do Eurogrupo - que já foi presidido por Mário Centeno -, também tem um presidente permanente (o irlandês Paschal Donohoe).
Não se pretende com esta nota desvalorizar a Presidência Portuguesa, que tem a sua importância e um programa com pontos interessantes e positivos, nomeadamente a realização da Cimeira Social do Porto, a 7 de Maio, afirmando a vontade de concretizar o Pilar Social da União Europeia. Nem se pretende desvalorizar o papel dos governantes, diplomatas e funcionários portugueses na condução dos trabalhos e reuniões que lhes competirá presidir.
Pretende-se, isso sim, alertar para o facto de que todo este tratamento jornalístico da Presidência rotativa do Conselho como se fosse a "Presidência da UE" é objectivamente errado, prestando portanto um mau serviço à população porque não a ajuda a compreender o funcionamento institucional da UE, já de si suficientemente complicado e difícil de compreender.
Mas, mais grave do que isso, este erro generalizado dos nossos meios de comunicação - muito provavelmente sem que tenham qualquer intenção de o fazer - acaba por ajudar aos intentos daqueles que pretendem uma maior governamentalização da UE, um maior protagonismo dos governos e do seu Conselho em detrimento do papel da Comissão e do Parlamento Europeu, um retrocesso político e institucional face a um movimento contrário que teve vencimento com a aprovação do Tratado de Lisboa. Como se refere no site oficial do Parlamento Europeu:
"O Tratado de Lisboa, que entrou em vigor no final de 2009, conferiu novos poderes legislativos ao Parlamento Europeu, colocando-o em pé de igualdade com o Conselho de Ministros no processo de tomada de decisões sobre o que a UE faz e a forma como o dinheiro é utilizado. Também alterou a forma como o Parlamento coopera com outras instituições, conferindo aos deputados ao PE um maior peso na condução da UE. Todas estas reformas garantem que o seu voto nas eleições europeias influa de forma ainda mais decisiva na escolha do rumo a seguir pela Europa."
Sugerir, subliminarmente que seja, que o Conselho de Ministros preside à União é pois, não só uma afronta ao Tratado, mas também contrário à recente evolução do projecto europeu no sentido de dar mais peso aos representantes directamente eleitos pelos povos. Os nossos jornalistas deveriam ter isso em conta quando usam a expressão factualmente errónea de "Presidência da União Europeia".