Berlusconi manda calar a Europa



Publicado em: O Gaiense, 5 de Setembro de 2009

Um porta-voz da Comissão Europeia (CE) informou que tinha sido pedida à Itália e a Malta uma clarificação sobre um incidente ocorrido no Mediterrâneo com um barco com imigrantes africanos, que foi forçado a dirigir-se para a Líbia.

Berlusconi reagiu violentamente, mandando calar a Comissão e ameaçando com o bloqueio da União se as suas exigências não forem satisfeitas: “Não daremos mais o nosso voto, bloqueando de facto o funcionamento do Conselho Europeu, se não se determinar que nenhum Comissário Europeu e nenhum porta-voz da Comissão possa mais intervir sobre qualquer assunto.” “Intervir deve respeitar só ao Presidente da CE e ao seu porta-voz” e os Comissários e porta-vozes que continuem a pronunciar-se, como têm feito ao longo dos últimos anos, deverão ser “demitidos de maneira definitiva”, porque as suas intervenções “dão armas à oposição”.

É a tentativa de impor a lei da rolha, acompanhada da chantagem de um bloqueio institucional. Não é normal na política europeia alguém descer tão baixo.

Embora se possa muitas vezes discordar do conteúdo das intervenções públicas da Comissão, não se pode deixar de considerar que as ameaças de Berlusconi exigem uma resposta firme, rápida e clara. Que deveria ser dada pelo primeiro responsável da instituição visada: Durão Barroso. Mas há sérias dúvidas de que queira afrontar um primeiro-ministro num momento crucial para a sua ainda incerta reeleição. É, porém, nestes momentos que a fibra de um político tem o seu verdadeiro teste. Se reagir em defesa dos seus colegas e dos seus funcionários, em defesa da honra e do papel do colectivo a que preside, ganhará seguramente respeito da Europa, mas pode perder o seu lugar. Se se calar, poderá mais facilmente garantir a nomeação para o ambicionado posto de presidente, mas todos ficarão esclarecidos sobre o perfil político que vai caracterizar o seu mandato.

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