Publicado em: O Gaiense, 8 de Março de 2008
Esta semana o meu trabalho levou-me até à Irlanda, provavelmente o único país a fazer um referendo ao Tratado de Lisboa. E será apenas por obrigação constitucional, já que não se vislumbra grande vontade do primeiro-ministro Bertie Ahern em o fazer, não tendo ainda marcado a data.
Talvez porque não considere as sondagens muito animadoras, com 25% a favor do Sim, 15% a favor do Não e 60% sem opinião. Ou então porque o momento político não lhe é muito favorável. Há um descontentamento geral com o planeamento caótico no sector do urbanismo e transportes e com a falta de transportes públicos. Os jornais publicam diariamente notícias sobre o seu envolvimento e do seu partido em inúmeros casos de corrupção, desde as “normais” luvas de investidores imobiliários, algumas delas confirmadas ao Tribunal pelos próprios “doadores” com montantes e formas de pagamento (em cheque ou em notas), sem registo de entrada nas contas do partido, até ao insólito caso do empréstimo de dinheiro do partido à então companheira de Ahern e promissora dirigente política para comprar uma casa para umas tias idosas.
Apesar de tudo, a Irlanda não deixa de ser encantadora. Deixo nota de uma excelente exposição sobre o poeta W. B. Yeats na Biblioteca Nacional, com entrada grátis, como noutras instituições, o que é uma boa política cultural. Mas, mais surpreendente é o facto de, no fim da visita, na cafetaria pedirmos um café e dizerem-nos que também é grátis. Serviço público a sério a contrastar com uma privada e conhecida destilaria de whiskey, cuja visita (interessante, mas de clara propaganda comercial) custa 12,5 euros. O que faz desejar que a moda privatizadora não chegue aos museus e bibliotecas.
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