O estranho mundo dos carregadores de telemóveis



Publicado em: O Gaiense, 4 de Julho de 2009

Este mês começam a aplicar-se tarifas reduzidas de roaming nas comunicações móveis, uma decisão imposta pela União Europeia contra a ganância dos operadores que, sem qualquer justificação técnico-industrial, sobrefacturavam aquele serviço, abusando do seu poder sobre os clientes.

Durante anos, foi vendida a ideia de que deveríamos deixar o mercado funcionar em regime de livre concorrência, sem intervenção da política na economia, e que os consumidores só ganhariam com isso. Pois bem, as operadoras de telemóvel encarregaram-se de desmentir os clássicos manuais de economia política liberal.

Mas há outro absurdo produzido pelo mercado livre dos telemóveis que tem de ser atacado a seguir. É o dos carregadores. Quantas vezes não viu alguém com a bateria em baixo a pedir um carregador emprestado? Qual é a resposta que lhe damos? — Qual é a marca? Qual é o modelo? Desculpa, esse não tenho.

Faz algum sentido que, para uma operação tão elementar como regarregar a bateria do telemóvel, o mercado tenha produzido um sem-número de formatos incompatíveis? Um dos extremos do carregador está normalizado: é a parte que inserimos na tomada de corrente. Não há nenhuma razão para que na outra ponta do cabo, a que se liga ao telefone, não se encontre também uma ficha igual para todos os modelos de todas as marcas.

Pensemos em algumas das vantagens desta normalização. Compraríamos o carregador uma vez na vida, não teríamos de pagar um novo carregador quando mudamos de telefone. Os telemóveis seriam mais baratos, as embalagens menores, poupava-se em plástico e cartão, em transportes, em lixo informático... Muitos milhões de carregadores em desuso poluem hoje o mundo e as nossas gavetas.

Parece elementar, mas o mercado livre não segue a lógica das pessoas normais. Mais uma vez, vai ser necessária uma decisão política para impor uma medida de mero bom-senso.

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