Cimeira de Bruxelas: uma mão cheia de nada



Foto: "The Council of the European Union"



Publicado em: O Gaiense, 7 de Março de 2009


A Cimeira da União Europeia, reunida no domingo, não produziu nada, a não ser proclamações genéricas contra o proteccionismo e uma vaga declaração de que a Europa tem de continuar a agir de forma coordenada.

Vistos os parcos resultados, fica a dúvida se Sócrates não teve afinal razão em ficar no seu congresso. Mas se, por outro lado, olharmos para o enorme vazio que caracterizou o debate político no congresso do PS, não se vislumbra também nenhuma razão para o primeiro-ministro ter faltado à cimeira. Há uma enorme semelhança entre a confrangedora falta de conteúdo dos dois conclaves.

Onde há diferença, e bem visível, é entre a nota sobre a cimeira publicada no site do Conselho Europeu e a informação que publicou o portal do governo português, intitulada “Cimeira afirma necessidade de acabar com offshores”. Ora, este tema nem sequer é mencionado na nota ou nos “Apontamentos de imprensa conjuntos” publicados no portal do Conselho. No site do nosso governo dá-se o maior destaque ao assunto, citando longamente o ministro das Finanças, que representou o país em Bruxelas. O que, não deixando de ser caricato, podia pelo menos ser um bom sinal.

Mas o fervor anti-offshores do ministro tem uma sequência inesperada. Diz o portal do governo que “Interrogado no final da cimeira acerca da Zona Franca da Madeira, Fernando Teixeira dos Santos declarou que «na Madeira (...) ainda estamos menos mal», e que «o que se faz na Madeira, se não existisse a zona franca da Madeira, ocorreria noutras praças ou noutros offshores necessariamente não transparentes».

O nosso offshore é melhor que os outros e mantê-lo é um serviço prestado à transparência dos mercados... Classifique o leitor este tipo de argumento, que eu tenho dificuldade em fazê-lo respeitando o decoro de linguagem que estas páginas exigem.

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